O desaparecimento dos
grandes répteis há dezenas de milhões de anos, na era mesozóica, assinalou o
começo da ascensão de pequenos animais, tímidos e ariscos - os mamíferos - que,
ao contrário do que se poderia supor, tornaram-se os herdeiros dos imponentes
sáurios que até então havia reinado como senhores absolutos na Terra.
Ao longo de centenas de
séculos, esses animais diversificaram-se assombrosamente e progrediram em todos
os meios, tanto nos oceanos (onde alguns, como a baleia azul e o cachalote
alcançaram enorme tamanho) como em terra firme (com espécies da estatura do
elefante) e também no ar.
CARACTERÍSTICAS
ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS
Os mamíferos são
animais vertebrados homeotérmicos, ou seja, sua temperatura interna mantém-se
constante dentro de certos limites, independentemente da temperatura ambiente,
assim como se dá com as aves. Descendente dos répteis, essa grande classe
zoológica apresenta as seguintes características: uma formação tegumentária (de
tecidos) típica; o pelo, que protege a pele e isola o animal do frio; e as
chamadas glândulas mamárias ou mamas, presentes nas fêmeas. Essas mamas
produzem uma secreção líquida rica em gorduras e proteínas, o leite, com o qual
as fêmeas alimentam suas crias nas primeiras fases do desenvolvimento.
A distribuição, tamanho
e cor do pelo variam amplamente de um grupo de mamíferos para outro: em alguns,
como nas baleias, desapareceu quase por completo; em outros, como nos
elefantes, é muito escasso; e em certas espécies, como no boi almiscarado e no
iaque, a pelagem é longa e densa. Algumas espécies, habitantes de zonas frias,
apresentam dois tipos distintos de pelagem: uma de inverno, mais clara e densa,
e outra de verão, mais escura.
Vários mamíferos
apresentam manchas no pelo, muitas vezes de grande beleza, como ocorre com
certos felídeos e antílopes, e com as girafas, as zebras etc. A cor e a
disposição dessas manchas, que chamam atenção fora de seu ambiente, contribuem
para disfarçar a silhueta do animal quando em seu habitat natural, facilitando
a camuflagem.
Certos mamíferos, como
os pangolins e os tatus, têm o corpo revestido por um conjunto de escamas
córneas em forma de armadura, o que constitui excelente proteção, dada a
extrema dureza dessas estruturas. Além disso, aparecem nos mamíferos outros
tipos de formação tegumentária, como as garras, grandes e afiadas nos felídeos
maiores; os cascos dos ungulados, que possibilitam a corrida rápida, com que
escapam dos predadores; e os chifres e galhadas, muito variados quanto à forma
e estrutura, desde o chifre fibroso e permanente do rinoceronte até as
formações de tecido conjuntivo dos veados, providas de numerosas ramificações
que caem e se renovam todos os anos.
Na pele dos mamíferos
existem muitas glândulas, desde as mamárias, muito especializadas e que
alcançam notável desenvolvimento, até as odoríferas. Estas últimas variam em
sua localização nas diferentes espécies: nos veados, encontram-se nos olhos;
nos porcos e javalis, nos cascos; em muitos roedores, perto dos órgãos
genitais; e nos castores e gambás, perto do ânus. Entre as várias funções das
glândulas odoríferas destacam-se a marcação de território, a comunicação com
outros membros da espécie, a atração sexual e a defesa.
Uma característica
fundamental da fisiologia dos mamíferos é sua homeotermia: a capacidade de
manter estável a temperatura corporal, de forma que não se produzam grandes
oscilações, independentemente das alterações da temperatura ambiente.
Essa capacidade deve-se
à presença de diversos mecanismos termorreguladores, tais como o tremor, que
consiste em contrações musculares involuntárias que geram calor quando a
temperatura exterior cai; a vasoconstrição, ou estreitamento do calibre dos
vasos sanguíneos, que evita a perda de calor; a sudorese ou secreção de
soluções salinas - que não se registra em alguns mamíferos, como os cetáceos e
os sirênios, por não possuírem glândulas sudoríparas; e a vasodilatação, ou
aumento do calibre dos vasos, sendo essas últimas empregadas para reduzir a
temperatura corporal quando sobe a temperatura ambiente.
Além desses meios
termorreguladores, existem outros, como a hibernação e a letargia, pelas quais
a atividade do animal decresce de forma considerável, possibilitando que ele
passe o inverno com um gasto de energia mínimo. As migrações, a construção de
abrigos e tocas etc., são outros recursos, nesse caso determinados pelo
comportamento, para enfrentar condições ambientais adversas.
Ainda que a estrutura
do esqueleto corresponda a um padrão geral cujas características básicas estão
presentes em todos os mamíferos, existem variações quanto ao número de
vértebras (com exceção das cervicais, que mantêm uma constância notável na
imensa maioria dos grupos) e de costelas, assim como na forma e número dos
ossos dos dedos etc. Caso específico é o dos marsupiais, nos quais aparece, à
altura da cintura pélvica, os chamados epipúbis, ossos exclusivos desse grupo,
que servem para sustentar o marsúpio, ou bolsa marsupial, onde os filhotes
completam seu desenvolvimento.
A morfologia e
configuração das extremidades difere nos grupos, devido à adaptação a uma ampla
gama de meios ecológicos. Assim, nos morcegos, os dedos das extremidades
anteriores alongaram-se de maneira considerável e, ao longo da evolução,
desenvolveu-se uma membrana que permite que esses animais voem. Os cetáceos e
os sirênios (por exemplo, os manatis ou peixes-boi, que, apesar do nome, não
são peixes, e sim mamíferos), como consequência de sua colonização em meio
aquático, tiveram as extremidades anteriores transformadas em nadadeiras, mais
adequadas para a natação, e perderam as posteriores. Modificações similares
experimentaram os pinípedes (focas e morsas, entre outros), por motivos
análogos.
Os mamíferos terrestres
apresentam variações no ponto distal de suas extremidades (porção mais distante
do eixo do corpo), relacionadas com o tipo de marcha em que se especializaram
os diferentes grupos.
Assim, alguns, como os
primatas e os ursos, são plantígrados (apoiam toda a planta do pé ao andarem);
os cães, raposas, hienas, felídeos e vários outros são digitígrados (apoiam
somente os dedos, sendo melhores corredores que os plantígrados); e, por
último, os ruminantes - javalis, rinocerontes e outros herbívoros - são
ungulígrados (o último osso do dedo é rodeado por uma formação córnea especial
denominada casco). Os ungulígrados ou ungulados apresentam redução no número de
dedos, que pode ser par, como nos artiodáctilos (veados, bois etc.) ou ímpar,
como nos perissodáctilos (antas, cavalos). Nos equídeos, entre os quais se
inclui o cavalo, houve a maior redução, restando apenas um dedo (casco) por
extremidade.
A dentição também varia
segundo os grupos e o tipo de alimentação a que se habituaram. Enquanto alguns
mamíferos, como as baleias, carecem de dentes e mostram em seu lugar uma série
de barbatanas ou lâminas especializadas na filtragem do plâncton, outros, como
os carnívoros, contam com incisivos e caninos de grande tamanho e poderosos
molares providos de uma proeminência para mastigar melhor a carne de suas
presas. Nos herbívoros, adquirem especial relevância os molares e pré-molares
com amplas superfícies de mastigação, para a trituração da erva e dos tecidos
vegetais que constituem sua dieta.
A maior parte dos
mamíferos apresenta duas dentições: uma característica do primeiro período de
vida, denominada de leite; e outra, a dentição permanente, que substitui a
anterior. Entre as exceções, destacam-se o ornitorrinco, os cachalotes e as
preguiças, nos quais só se registra uma dentição. Os animais desse grupo
recebem o nome de monofiodontes, em contraposição aos mamíferos com duas
dentições ou difiodontes.
Diferentes tipos de
dieta impõem, logicamente, variações no sistema digestivo. Os mamíferos
herbívoros requerem, para um melhor aproveitamento da erva e dos produtos
vegetais que consomem longos intestinos e, como ocorrem com os ruminantes,
estômagos especiais integrados por várias cavidades, cada uma das quais com uma
função específica na digestão. Essas cavidades se denominam: rume ou pança;
retículo ou barrete; folhoso; e coalheira ou coagulador. A verdadeira digestão
se realiza na coalheira, já que as outras são câmaras onde se armazena e filtra
o alimento.
Os principais órgãos do
aparelho respiratório dos mamíferos, onde se verifica o intercâmbio gasoso
entre o sangue e o meio exterior, são os pulmões, formados por lobos
constituídos de pequenas cavidades ou alvéolos, percorridos por uma densa rede
de capilares sanguíneos. O ar procedente do exterior chega até os alvéolos por
meio de uma série de condutos, como a faringe, a laringe, a traqueia, os
brônquios e os bronquíolos.
A circulação é dupla
(existe um circuito pulmonar e outro que percorre o resto do organismo) e,
nela, o sangue arterial e o venoso não se misturam. O coração, como ocorre
também nas aves, divide-se em quatro compartimentos: dois superiores
(aurículas) e dois inferiores (ventrículos).
Os mamíferos possuem um
sistema nervoso completo e muito desenvolvido, responsável por suas diferentes
possibilidades de comportamento, apresentando, em muitos casos, elevada
capacidade para o aprendizado e a relação com outros indivíduos de sua espécie.
Destaca-se, por sua importância, a evolução do encéfalo, em cuja superfície
externa se forma o córtex cerebral, verdadeiro centro de associação de impulsos
nervosos, que alcança sua máxima perfeição no homem.
Na imensa maioria das
espécies atuais, a reprodução se caracteriza pela formação, dentro do corpo da
fêmea, de uma placenta, estrutura orgânica que põe em contato o embrião e o
útero materno e através da qual se efetua a alimentação embrionária. Alguns
mamíferos, como os ornitorrincos, são ovíparos, ou seja, reproduzem-se por
ovos, enquanto outros, caso dos marsupiais, é provido de uma bolsa ou marsúpio,
onde a cria completa seu desenvolvimento.
CLASSIFICAÇÃO
A classe dos mamíferos
se subdivide, segundo as características anteriormente mencionadas, em três
grandes subclasses: a dos prototérios, ovíparos; a dos metatérios, formada
pelos marsupiais; e a dos eutérios ou placentários, com 16 ordens.
Prototérios ou
mamíferos ovíparos. A subclasse dos mamíferos prototérios, a mais arcaica, é
constituída por uma única ordem, a dos monotremados, de que fazem parte a
equina e o ornitorrinco, um singular animal aquático da Austrália que possui
bico plano, cauda semelhante à do castor e patas curtas e fortes. Os
monotremados caracterizam-se por ter uma cloaca em que desembocam tanto o tubo
digestivo como as vias urinárias e os condutos genitais.
Metatérios ou mamíferos
marsupiais. Os marsupiais se acham confinados, em sua maioria, na Austrália,
Nova Zelândia e Nova Guiné, com exceção de algumas espécies, como as sariguéias,
encontradas na América do Norte e grande parte da América do Sul, e outras como
a cuíca-d'água, sul-americana. São marsupiais os coalas, diabos da tasmânia e
cangurus, entre outros. Esses animais adaptaram-se a diversos tipos de
habitats, do arborícola ao terrestre, passando pelo aquático.
Eutérios ou mamíferos
placentários. A subclasse mais importante dos mamíferos é a dos eutérios ou
placentários, tanto pelo número de espécies quanto pelo desenvolvimento,
diversidade de adaptações e distribuição que alcançaram. Dos oceanos e águas
continentais ao espaço aéreo, das montanhas e regiões polares aos desertos,
estepes, savanas, selvas e bosques, não existe um habitat a que não se tenha
adaptado de um modo ou de outro alguma espécie de mamífero placentário.
Esses animais cobrem
uma ampla gama de ecossistemas e formas de vida: há os planadores como os
dermópteros (Cynocephalus volans e Galeopterus variegatus) ou autênticos
voadores, como os quirópteros (morcegos e vampiros); aquáticos como os cetáceos
(baleias e golfinhos, entre outros), os sirênios (manatis e dugongos) ou os
pinípedes (subordem dos carnívoros que compreende focas, morsas etc.);
arborícolas, como a maioria dos primatas, preguiças e outros; cavadores, como
muitos roedores, lagomorfos (coelhos) e insetívoros (toupeiras); herbívoros
corredores, como cavalos, zebras, antílopes e muitos outros; grandes fitófagos
(de dieta vegetariana) de corpo volumoso e maciço, como os elefantes, rinocerontes
e hipopótamos; e ferozes carnívoros, entre os quais os mais poderosos felídeos,
como o leão e o tigre.
Os mamíferos
placentários se subdividem nas seguintes ordens: dermópteros, tubulidentados,
folídotos, hiracoídeos, sirênios, cetáceos, proboscídeos, artiodáctilos,
perissodáctilos, roedores, lagomorfos, carnívoros, insetívoros, quirópteros,
edentados (ou desdentados) e primatas.
Entre essas ordens, as
menores, tanto pelo reduzido número de espécies que incluem como por sua
distribuição restrita, são a dos dermópteros, de pequeno tamanho, vegetarianos
e planadores, como os lêmures voadores ou colugos; a dos tubulidentados, como o
aardvark ou oricteropodídeo, noturno e próprio da savana africana; a dos
folídotos, ou pangolins, com o corpo coberto de placas; e a dos hiracoídeos,
pequenos e parecidos com os roedores.
Os mamíferos aquáticos
compreendem duas ordens: a dos sirênios, de corpo fusiforme e maciço, como os
manatis e dugongos; e a dos cetáceos, com as extremidades anteriores
transformadas em nadadeiras e as posteriores inexistentes ou muito reduzidas,
da qual fazem parte o golfinho, o narval, as baleias e os cachalotes.
Os herbívoros
terrestres de tamanho médio ou grande pertencem em sua maioria a uma das três
ordens seguintes: a dos proboscídeos, com tromba ou probóscide, como os
elefantes; a dos artiodáctilos, com número par de dedos, que conta com
numerosas famílias e espécies, entre estas o javali, o porco, o hipopótamo, o
camelo, as lhamas, os veados, o alce, a rena, o gamo, a girafa, os antílopes, a
ovelha, a cabra, a vaca, o bisão e o búfalo; e a dos perissodáctilos, com
número ímpar de dedos, da qual alguns representantes, como o cavalo ou a zebra,
são perfeitamente adaptados para corridas, enquanto outros, como os
rinocerontes, são corpulentos e maciços.
Os roedores e
lagomorfos apresentam muitas características semelhantes, a ponto de, até pouco
tempo, serem englobados numa mesma ordem. No entanto, certos detalhes de sua
dentição fizeram com que fossem separados em duas ordens. Os lagomorfos incluem
coelhos e lebres, e os roedores constituem um grupo muito diversificado que
alcançou elevado grau de evolução, com espécies como o rato comum, o hamster,
os esquilos, o gerbo, a chinchila, a cobaia e a capivara. Esta última,
sul-americana, é o maior dos roedores.
A ordem dos carnívoros
engloba famílias conhecidas como a dos felídeos (tigre, leão, leopardo, puma,
jaguar ou onça, lince etc.) e a dos canídeos (cão, lobo, coiote, chacal). A
essa ordem pertencem também os ursos, a hiena, o mangusto, a doninha, o
arminho, o texugo e o rato.
Os insetívoros são
mamíferos pequenos, entre os quais se encontram o ouriço e a toupeira, esta
última grande cavadora. Os quirópteros são placentários voadores, muitos dos
quais capturam insetos no ar por ecolocalização (emissão de ultra-sons que se
refletem ao alcançar a presa e são captados pelo animal); outros são frugívoros
(alimentam-se de frutas) ou ainda hematófagos (sugadores de sangue). No grupo
dos desdentados estão às preguiças e tatus sul-americanos e o urso formigueiro.
A última ordem, a dos
primatas, compreende os prossímios (lêmures, lóris, gálagos) e os símios ou
antropóides. Estes, por sua vez, estão agrupados em catarrinos, ou macacos do
Velho Mundo, com os orifícios nasais abertos para baixo, como o mandril, o
babuíno, o macaco, o gibão, o orangotango, o gorila e o chimpanzé; e
platirrinos, ou macacos americanos, com um septo nasal largo e orifícios nasais
abertos para frente, como o macaco-aranha, o sagui, o macaco uivador, o uacari
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Profº. Esp. Juarez Souza Magnus
Licenciatura Plena em Ciências –Habilitação: Biologia
Biólogo / CRBio-03 Reg. Nº 69.544/03-D
Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional
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