(Fragmento)
Ora
suposto que já somos pó, e não pode deixar de ser, pois Deus o disse:
perguntar-me-eis, e com muita razão, em que nos distinguimos logo os vivos dos
mortos? Os mortos são pó, nós também somos pó; em que nos distinguimos uns dos
outros? Distinguimo-nos os vivos dos mortos, assim como se distingue o pó de
pó. Os vivos são pó levantado, os mortos são pó caído; os vivos são o pó que
anda, os mortos são pó que jaz: Hic Jacet. Estão essas praças no verão cobertas
de pó: dá um pé-de-vento, levanta-se o pó no ar e que faz? O que fazem os
vivos, e muitos vivos.
Não aquieta o pó, nem
pode estar quedo; anda, corre, voa; entra por esta rua, sai por aquela; já vai
adiante, já torna atrás; tudo enche, tudo cobre, tudo envolve, tudo perturba,
tudo toma, tudo cega, tudo penetra: em tudo e por tudo se mete, sem aquietar e
sossegar um momento, enquanto o vento dura. Acalmou o vento: cai o pó, e onde o
vento parou, ali fica; ou dentro de casa, ou na rua, ou em cima de um telhado,
ou no mar, ou no rio, ou no monte, ou na campanha. Não é assim? Assim é. E que
pó, e que vento é este? O pó somos nós: Quia pulvis es; o vento é a nossa vida:
Quia ventus est vita mea. Deu o vento, levantou-se o pó; parou o vento, caiu.
Deu o vento, eis o pó levantado; estes são os vivos. Parou o vento, eis o pó
caído; estes são os mortos. Os vivos pó, os mortos pó; os vivos pó levantado,
os mortos pó caído; os vivos pó com vento, e por isso vãos; os mortos pó sem
vento, e por isso sem vaidade.
Está é a distinção, e
não há outra.
(Padre
Antonio Vieira)
Profº. Esp. Juarez Souza Magnus
Licenciatura Plena em Ciências –Habilitação:
Biologia
Biólogo / CRBio-03 Reg. Nº 69.544/03-D
Especialista em Psicopedagogia Clínica e
Institucional
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