EMBRIOLOGIA
VEGETAL E ANIMAL
A maioria das espécies
animais e vegetais apresenta mecanismos de reprodução sexual que consistem
basicamente na formação dos gametas masculinos e femininos, células especiais
que possuem a metade dos cromossomos (onde está contida a informação genética)
que o adulto requer e que, mediante sua união, formam o ovo ou zigoto, a partir
do qual se origina um novo indivíduo.
Embriologia é a ciência
biológica que estuda, nos vegetais e animais, o desenvolvimento da semente ou
do ovo até constituir um espécime completo. Para alguns, seu campo de aplicação
se estende aos processos de formação dos gametas e à fecundação.
Embriologia
vegetal
As plantas superiores,
que produzem sementes, formam células geradoras de gametas. São os gametófitos
masculinos (microgametófitos) e femininos (macrogametófitos), que têm origem em
órgãos especializados denominados esporângios (microesporângios e
macroesporângios, respectivamente).
Nas gimnospermas
(plantas que não florescem nem frutificam), os microesporângios são encontrados
em estruturas cônicas chamadas estróbilos e os macroesporângios em outras,
também cônicas e de maior tamanho, chamadas macrostóbilos - que correspondem,
por exemplo, às pinhas do pinheiro. Por sua vez, nas angiospermas (vegetais que
dão flor e fruto), os microesporângios correspondem a órgãos homólogos, as
anteras, e os macroesporângios, aos pistilos.
Nas gimnospermas, o
microgametófito é constituído de uma célula vegetativa e outra generativa,
ambas haplóides (com um só jogo cromossômico, conseqüência do processo de
divisão celular conhecido como meiose). A partir da célula generativa, durante
o processo de fecundação, formam-se duas células, a pedicular e a
espermatógena. O núcleo desta última se biparte, e assim a célula passa a
constar de quatro núcleos haplóides. Nas plantas angiospermas, o
microgametófito compõe-se de uma só célula, que contém três núcleos haplóides,
dois espermáticos e um vegetativo.
O macrogametófito se
compõe, nas gimnospermas, de múltiplas células haplóides, várias das quais são
óvulos (gametas femininos que se fundem com um núcleo espermático, para formar
o zigoto) e, nas angiospermas, de sete células: uma central, com dois núcleos
haplóides, e dois grupos de três células haplóides em posição polar.
Quando o
micromegatófito contido num grão de pólen entra em contato com um
macroesporângio, dá-se a polinização. O grão de pólen lança o tubo polínico,
pelo qual migram os núcleos espermáticos, que entram em contato com as células
do macromegatófito para processar-se a fecundação. Nas gimnospermas, três dos
núcleos do micromegatófito degeneram e o restante se funde com o óvulo para
formar o zigoto. Nas angiospermas, um dos núcleos espermáticos se une ao óvulo
(a célula central de um dos polos do macromegatófito) e o outro se funde com os
dois núcleos da célula central. Assim se constitui o endosperma, tecido de
reserva que serve de nutriente ao embrião durante seu desenvolvimento.
Os zigotos formados
começam a dividir-se ativamente mediante mitose, até formar o embrião, que
consta de uma raiz e um talo jovem e de dois ou mais cotilédones (folhas
embrionárias), nas gimnospermas, e de um ou dois cotilédones nas angiospermas
(conforme sejam monocotiledôneas ou dicotiledôneas). A multiplicação das
células caracteriza distintas zonas embrionárias, além dos cotilédones: nas
dicotiledôneas, por exemplo, se distinguem o núcleo ou meristema radicular, a
fração central ou hipocótilo, a superior ou meristema caulinar, o Albume e o
tegumento da semente. Rodeada dos restos de tecido do macroesporângio,
constituem-se as sementes que, no caso das angiospermas, ficam dentro do fruto.
Depois de uma fase de latência, as sementes germinam e dão início ao
crescimento da planta.
Embriologia
animal
Nos animais, o embrião
pode dar lugar a um adulto, em processo de crescimento direto, ou produzir uma
larva que passará por metamorfose para converter-se em adulto. As células que
apresentam dois jogos cromossômicos homólogos são diplóides e os organismos
correspondentes diplontes. Isso ocorre em todos os animais: durante a
gametogênese, formam-se os gametas (óvulos nas fêmeas e espermatozóides nos
machos), que só têm um jogo cromossômico como resultado da meiose.
Na fecundação, o núcleo
do espermatozóide funde-se com o óvulo para formar o zigoto, que assim constitui a célula diplóide. O embrião
pode desenvolver-se fora do organismo a partir do qual se formou,
alimentando-se de uma substância proporcionada pelo óvulo, o vitelo (caso dos
animais ovíparos, como as aves), no interior do gerador, também com nutrição
vitelina (animais ovovivíparos, como alguns répteis), ou ainda no interior, mas
com alimentação fornecida pelo organismo (caso dos animais vivíparos, como os
mamíferos).
Fases
de desenvolvimento embrionário
A complexidade do
processo de crescimento do embrião impõe a atribuição de denominações
específicas a numerosas células e grupamentos celulares que intervêm em suas
sucessivas etapas de desenvolvimento.
Segmentação
O começo do processo
embrionário consiste na divisão mitótica do zigoto, que dá origem a duas
células que voltam a dividir-se. O processo se repete à medida que aumenta o
número de células (2, 4, 8, 16...) até formar uma densa esfera de células, a
mórula. O resultado final desse processo, chamado segmentação, é o estado da blástula
(nos mamíferos, blastocisto), formada por um conjunto de células denominadas
blastômeros e que normalmente contêm uma cavidade, o blastocele (lecitocele nos
mamíferos).
Gastrulação
O estado da blástula dá
lugar à outro mais
desenvolvido o da gástrula, mediante o processo chamado gastrulação, em que se
formam as três camadas celulares fundamentais dos embriões dos animais
superiores: o ectoderma na parte externa, o endoderma na interna e o mesoderma
entre ambas. Durante a gastrulação, desaparece o blastocele (se existia) e
forma-se uma nova cavidade, o arquêntero, que dará lugar ao intestino do animal.
O arquêntero comunica-se com o exterior por um orifício dito blastóporo, onde
têm origem a boca do animal (nos protostomados) e o ânus (nos deuterostomados).
O ectoderma e o
endoderma podem formar-se mediante diferentes mecanismos, os mais comuns dos
quais são a embolia, em que uma parte da blástula se invagina e cresce até
entrar em contato com a parte não invaginada, e a epibolia, em que uma parte da
blástula cresce e recobre o resto. Uma vez formados o ectoderma e o endoderma,
o mesoderma origina-se a partir das células de um deles ou de ambos.
Organogênese
Depois de formar-se a
gástrula, ocorre proliferação celular e amplo movimento e migração de células,
abre-se um poro secundário (que origina a boca ou o ânus) e formam-se pregas e
bolsas, fenômenos que, em conjunto, se conhecem como organogenesia, e que dão
lugar à constituição dos diferentes órgãos do animal.
De modo geral, o
ectoderma constitui o sistema nervoso e a pele, o endoderma os aparelhos
respiratório e digestivo, como as glândulas a estes associadas, e o mesoderma
os ossos, os músculos, os aparelhos excretor, circulatório e reprodutor.
Animais
amniotas
Os embriões de répteis,
aves e mamíferos encontram-se protegidos por uma série de membranas. O cório
acha-se imediatamente debaixo da casca do ovo nos répteis, aves e mamíferos
monotremados e une-se à parede do útero da mãe nos mamíferos superiores, para
formar a placenta. A segunda membrana é o âmnio, que contém o líquido
amniótico.
As duas camadas
restantes são invaginações do tubo digestivo: o saco vitelino, cheio de vitelo
(exceto nos mamíferos superiores), que serve de alimento ao embrião, e o
alantóide, que nos animais que põem ovos se liga à casca por meio de vasos e
serve tanto para a respiração como para o acúmulo de substâncias rejeitadas.
Nos mamíferos superiores, liga-se à placenta, serve às mesmas funções e ao
transporte de alimentos fornecidos pelo sangue da mãe. Nesses animais, o
alantóide e a vesícula vitelina (muito reduzida) são rodeados por tecido
conectivo e pela pele, constituindo o cordão umbilical.
Regulação
e mosaico
Nos primeiros passos da
segmentação, varia o comportamento de certas espécies, nas quais está
determinada a parte do corpo originada de cada célula ou blastômero. Diz-se, em
tal caso, que o embrião apresenta um comportamento de mosaico, ou que está
determinado. Por exemplo, nas ascídias, animais em geral marinhos, quando se
separa um dos blastômeros formados depois da primeira divisão celular, o
restante produz apenas a metade do embrião.
Em outros casos, como o
do ouriço-do-mar, uma operação similar resulta na produção do embrião completo:
o blastômero restante é capaz de assumir as funções do que foi eliminado.
Diz-se, então, que o ovo apresenta regulação. É um mecanismo desse tipo que
intervém no desenvolvimento do embrião humano. Em geral, depois de algumas
divisões celulares a partir da inicial do zigoto, cada zona do embrião está
determinada e se denomina campo morfogenético.
Indução
Ao se transplantar para
um embrião de anfíbio certos tecidos de outro embrião, os tecidos adjacentes
aos transplantados não se desenvolvem como habitualmente, para dar lugar à
estrutura que originariam em condições normais, mas se transformam em outros,
associados aos transplantados.
Dá-se a esse fenômeno o
nome de indução. Quando, por exemplo, se transplanta de um embrião uma
estrutura em forma de círculo retirado da área do globo ocular para a área do
ectoderma ventral de outro embrião, as áreas adjacentes ao transplante, que
normalmente produzem pele, se diferenciam e formam o cristalino do olho.
Um exemplo mais
espetacular é o transplante do lábio dorsal do blastóporo, que provoca a
formação de um embrião secundário completo. Devido a isso, se conhece essa área
como centro organizador. Acredita-se que a segregação de uma substância,
chamada organizadora, seja responsável pela organização dos tecidos do embrião.
Estima-se que, nas sucessivas etapas de diferenciação dos tecidos, produzem-se
fenômenos de indução desse tipo que, devidamente controlados, possibilitam a
reparação de defeitos e malformações congênitas de origem embrionária.
Embriologia
humana
Apesar dos progressos
na fecundação humana em proveta, certas particularidades do desenvolvimento
embrionário ainda não estão bem esclarecidas. Conhecer a idade exata de um
embrião ou feto é praticamente impossível, pois raramente se consegue
determinar o momento exato em que se deu a fecundação. Sabe-se, porém, que
ocorre nas 24 horas depois da ovulação e, em média, nas mulheres que apresentam
ciclos menstruais bem definidos, dá-se frequentemente no 14º dia após iniciado
o último período menstrual.
Quando se levam em
conta diferentes casos isolados ou ainda diferentes gestações de uma mesma
mulher, verifica-se que o período de desenvolvimento intrauterino é bastante
variável. Por ocasião do parto, em cinquenta por cento dos casos o feto tem 266
dias (com uma margem de sete dias para mais ou para menos) - ou seja, 280 dias,
o que corresponde ao tempo convencional de uma gestação, menos os 14 dias
correspondentes à primeira metade do ciclo menstrual.
O período pré-natal
pode ser dividido em três etapas, mais ou menos distinto: (1) implantação do
blastocisto, o que corresponde às três primeiras semanas do desenvolvimento,
quando ficam diferenciados os epitélios germinativos e esboçadas as membranas
extra-embrionárias; (2) fase embrionária (da quarta à oitava semana), quando os
processos de diferenciação e crescimento são muito rápidos e se constituem os
principais sistemas de órgãos; (3) fase fetal (do terceiro ao nono mês de
gestação), quando há uma complementação parcial do crescimento e alterações na
forma externa.
Implantação
do blastocisto
Numa ejaculação normal,
são lançados cerca de três centímetros cúbicos de sêmen, que contêm de 200 a
300 milhões de espermatozóides. Depois de liberados dos túbulos seminíferos, os
espermatozóides tornam-se ativos e, depositados na vagina, espalham-se por todo
o útero e trompas, chegando ao infundíbulo. Se tiver ocorrido ovulação, o óvulo
cai no infundíbulo, onde é fecundado. Graças aos movimentos conjugados dos
cílios existentes na camada epitelial e às contrações rítmicas da trompa, o ovo
é deslocado para o útero.
Não se sabe exatamente
quanto tempo o óvulo gasta para atravessar a trompa (oviduto). Presume-se que
esse tempo seja de três a quatro dias. No sexto dia depois da fecundação, o
blastocisto "fixa-se" no endométrio do útero, iniciando a fase de
implantação. Nessa fase, o embrião vive à custa do material difusível através
do endométrio, uma vez que suas reservas nutritivas (vitelo) são mínimas.
A implantação ocorre
normalmente na parede posterior do corpo do útero, no espaço entre a abertura
de glândulas do endométrio. Não é raro, porém, o blastocisto implantar-se em
locais anormais, fora do corpo do útero. Em geral isso leva à morte do embrião,
e a mãe sofre severa hemorragia durante o primeiro ou segundo mês de gestação.
Fase
embrionária
Durante o segundo mês
de gestação, ou seja, da terceira à oitava semana do desenvolvimento, o embrião
atinge cerca de 25 mm. As partes da cabeça e do tronco podem facilmente ser
reconhecidas. Dobrado sobre si mesmo, o embrião mantém a parte superior da
cabeça voltada para baixo, em direção à cauda. Aparecem os rudimentos dos
membros (quarta a quinta semana).
Os órgãos genitais
podem ser considerados como indiferenciados, pois não têm forma definida, de
modo que, pelo simples exame deles, não se consegue indicar o sexo do embrião.
Na região da face, o desenvolvimento caracteriza-se pela formação do nariz (a
partir dos placóides nasais, que se situam na parte frontal, pouco acima da
"boca") e pela diferenciação do olho, a partir dos placóides ópticos.
Fase
fetal
A partir do terceiro
mês, o embrião, que agora se chama feto, inicia alguns movimentos
respiratórios, apesar de estar imerso no líquido amniótico. Seus movimentos
ainda não são percebidos pela mãe. Os olhos deslocam-se para a posição
definitiva e inicia-se a diferenciação na genitália externa. No quarto mês, o
feto tem o peso aumentado em aproximadamente seis vezes (passa de vinte para
120 gramas).
Durante o quinto e o
sexto mês de gestação, inicia-se o crescimento dos cabelos, cílios e
supercílios, bem como um desenvolvimento acentuado das unhas. Os movimentos
realizados pelo feto são perfeitamente percebidos pela mãe. Caso seja retirado
do ventre materno, consegue manter a respiração por mais 24 horas e pode até
sobreviver em um incubador, desde que tomados alguns cuidados especiais.
Inicia-se no oitavo mês
da gestação a deposição de gordura subcutânea, de maneira que o feto perde a
aparência enrugada do estágio anterior. Por ser a cabeça bastante pesada em
relação ao corpo, o feto ocupa, no útero, uma posição normalmente invertida.
Sua pele está recoberta de uma substância esbranquiçada e gordurosa, a vernix
caseosa, composta de uma secreção produzida pelas glândulas sebáceas.
O feto ganha muito peso
durante os dois últimos meses da gestação. Devido, porém, à perda de eficiência
da placenta, para de crescer por volta do 260o dia de gestação. Depois do
nascimento, o recém-nascido é capaz de manter sua temperatura corporal, graças
à aceleração de seu metabolismo.
Placenta
Originalmente formada
pela associação das membranas extra-embrionárias (cório e alantóide) e do
endométrio do útero, a placenta é um órgão temporário, mas o principal
responsável pelo intercâmbio de alimento e oxigênio necessários ao
desenvolvimento do feto. Deve desempenhar, para o feto, as funções que, no
adulto, são normalmente desempenhadas pelos pulmões, fígado, intestino, rins e
glândulas endócrinas. Atua ainda como barreira para muitos microrganismos
patogênicos e várias substâncias tóxicas, prevenindo sua transfusão da mãe para
o feto. Com a forma e o tamanho de um prato fundo, liga-se ao feto pelo cordão
umbilical.
Também podem passar
pela placenta aminoácidos, uréia, ácido úrico, creatina e creatinina. A
transmissão dos carboidratos é mais complicada: a placenta é capaz de retirar a
glicose do sangue da mãe e convertê-la em glicogênio, que parece ser a reserva
alimentar do feto. Além disso, passam facilmente da mãe para o feto íons de
sódio, potássio, magnésio, fósforo e cálcio, água, vitaminas, hormônios,
antígenos, anticorpos, alguns medicamentos e quase todos os vírus.
A mãe pode então
imunizar, passivamente, o filho, pela transfusão de anticorpos produzidos pela
imunização ativa de qualquer infecção que ela tenha tido. Assim, se ela estiver
defendida de certas doenças como a difteria, a escarlatina ou a varíola, o feto
estará imunizado contra essas doenças infecciosas.
Gêmeos
e partos múltiplos
Na espécie humana, a
estrutura e função do útero da mulher estão adaptadas ao desenvolvimento de um
só indivíduo, o que corresponde ao tipo mais comum de reprodução. Os gêmeos
representam um desvio dessa condição normal, pois de um mesmo útero nascem dois
ou mais indivíduos. Tudo indica que a disposição gemelar decorre de um caráter
hereditário que envolve tanto a mãe como o pai, mas principalmente a mãe.
Alguns gêmeos são tão
parecidos que dificilmente se consegue distingui-los (iguais, univitelinos),
enquanto outros são pouco parecidos e podem ser inclusive de sexos opostos
(desiguais, fraternos, dizigóticos). Os primeiros derivam de um único ovo e
ocorrem numa frequência de cerca de três para mil partos simples.
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Biólogo / CRBio-03 Reg. Nº 69.544/03-D
Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional
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